Milhares manifestaram-se em Londres contra a visita do Papa O pedido de desculpas apresentado pelo papa é insuficiente, afirmaram hoje, sábado, as vítimas de abusos sexuais, durante uma manifestação de milhares de pessoas, em Londres, contra a visita de Bento XVI ao Reino Unido.
O papa manifestou hoje, sábado, durante uma missa na catedral de Westminster, a "profunda tristeza" pelo "imenso sofrimento provocado pelos abusos cometidos nas crianças", que classificou de “crimes inomináveis”.
Mas este arrependimento ainda não é suficiente, afirmaram vários manifestantes no protesto que uniu vários milhares de activistas laicos, homossexuais, feministas, vítimas de abusos sexuais e militantes dos direitos humanos.
"Palavras não vão proteger crianças, não queremos ouvir mais palavras caras", afirmou Barbara Blaine, fundadora e presidente da Rede de Sobreviventes aos Abusos por Padres, uma organização de vítimas fundada nos EUA, à agência Lusa.
"Queremos actos firmes do papa que protejam a sério as crianças, como abrir os arquivos que estão no Vaticano sobre todos os crimes sexuais praticados por padres e pensamos que ele deveria revelar a identidade e os nomes de todos os padres predadores no site de Internet para que os pais possam manter os filhos longe deles", acrescentou.
Andrea, um transexual britânico que também participou na manifestação, também pensa que o papa "precisa de fazer mais" e que "deveria ter parado [com os abusos] há muito tempo".
Além dos abusos, enumera outras razões para se opor à visita de Estado do papa, como a oposição à contracepção, "cujo resultado é que milhares ou milhões de crianças nascem na pobreza", e à homossexualidade. "É bem-vindo como turista mas não numa visita de Estado", afirmou à Lusa.
No desfile, que partiu do Hyde Park, local da missa que o papa celebra esta tarde, em direcção a Downing Street, residência oficial do primeiro-ministro, liam-se cartazes como "crimes, não erros", "levem o papa a tribunal" e "o papa é cúmplice do encobrimento aos abusos".
Não muito longe passavam alguns fiéis católicos a caminho da missa do papa, entre os quais o português Virgílio Cervantes, que ainda gritaram algumas palavras contra os manifestantes.
A igreja Católica, admitiu à Lusa, tem "visões muito próprias" sobre questões como a homossexualidade e o aborto que "não agradam a toda a gente".
Contudo, minimizou a dimensão da manifestação, que descreveu como "meia dúzia de protestantes".
Acompanhado da esposa e de dois filhos, afirmou esperar ouvir de Bento XVI uma palavra "dirigida às várias comunidades que fazem parte desta cidade cosmopolita que é Londres, uma palavra de paz, de harmonia e de união numa altura em que o mundo tanto precisa".
Às provocações dos católicos, os manifestantes contra o papa reagiram, dizendo que iriam para o "inferno por protegerem pedófilos".
Outros replicaram com humor sarcástico ao estilo inglês usando um tom profético: "Que nunca morrais de Sida nem sejais violados pelo vosso padre".
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